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cenografia e figurinos para:

ilhas

quanto mais perto estás da morte, mais vivo te sentes.

teatro, a partir do arquipélago dos açores, com encenação de miguel seabra, para o teatro meridional, em coprodução com o teatro nacional d. maria ii e o teatro micaelenseestreia no teatro micaelense, ponta delgada em dezembro de 2021.

fotografia de cena © ricardo reis

encenação e desenho de luz: miguel seabra; dramaturgia: natália luiza; música original e espaço sonoro: fernando mota; interpretação: ana santos, david medeiros, emanuel arada, joana de verona, miguel damião, rosinda costa; assistência de encenação e direção de cena: filipa melo; assistência de cenografia e direção de cena: marco fonseca; documentário, vídeo e fotografia: ricardo reis; direção de produção: rita conduto; produção executiva: susana monteiro, rita mendes; direção artística: teatro meridional, miguel seabra, natália luiza.

"se o teatro meridional é uma companhia vocacionada para a itinerância, a influência dos lugares também se faz sentir nas suas criações. em ilhas, miguel seabra encena um espetáculo que mergulha nas idiossincrasias do arquipélago dos açores. transformar em matéria cénica a singularidade identitária deste território português e criar um modo de comunicar inspirado nos seus hábitos, ritos e mitos são os desafios desta criação. nela, as linguagens gestual, plástica e musical revelam-se como os principais veículos de expressão, contornando o recurso à palavra como forma dominante de comunicar. ilhas insere-se no projeto províncias do teatro meridional, de onde nasceram os espetáculos para além do tejo (2004), por detrás dos montes (2006), por causa da muralha, nem sempre se consegue ver a lua (2012) e ca_minho (2019)."

registos sobre o território © hugo f. matos

diário de bordo e criação © hugo f. matos

registos do processo de criação © hugo f. matos

"algumas pedras vulcânicas, chão e fundo pretos, uma corda de enforcar dependurada, seis atores encostados à parede de trás. esses homens e mulheres começam por avançar pelo palco, à vez, como se enfrentassem algo de tenebroso. avançam e recuam. voltam a avançar e voltam a recuar. Começa-se a percecionar o barulho do mar. estas pessoas encontram-se numa praia, feita de areia negra." cláudia marques santos em "ilhas”: o teatro meridional leva os açores ao palco do d. maria II

"de início é luz e som, sombras e nevoeiro. vêem-se corpos à distância que se aproximam e recuam, enquanto pedras negras espalhadas pelo palco anunciam um lugar hostil. o movimento dos atores repetido uma e outra vez fixa a imagem de um destino em que as histórias de homens e mulheres passam inevitavelmente pelo confronto com a natureza. não sabemos nomes, nem nos é entregue uma narrativa. chega-nos um inventário trabalhado através da cenografia e da dramaturgia (...) onde os gestos dos atores evocam lugares, memórias, sentimentos e valores, traçando um quadro complexo e doloroso de um povo. ilhas é um espetáculo sobre a singularidade da condição açoreana, da terra abraçada pelo mar e da humanidade que aí vive. recusa-se a palavra para dar lugar ao corpo; ao corpo que sofre, que é rejeitado e desejado, marcado e enrugado pela submissão a uma geografia.

(...)
o processo de imersão através de residências artísticas nos locais que serviram de base ao espetáculo, permitiu que a equipa absorvesse as idiossincrasias do seu objeto de trabalho, transformando-o através da composição de um quadro cénico e estético particular. no entanto, não estamos perante um drama sociológico ou um exercício de antropologia, mas a escolha de uma condição como objeto artístico. sobre este objeto repousam diversos elementos – mar e terra, despedida e reencontro, dor e alegria, feminino e masculino, morte e deus – adquirindo significado através de fragmentos que revelam a sua ambivalência e carga dramática. 

(...)

a condição açoreana é sensível e o corpo é o lugar privilegiado para se manifestar. a face é pintada de negro, representando a dimensão vulcânica das ilhas tatuada nos seus habitantes. uma atriz luta incessantemente com uma rede de pesca, numa dança que nos remete para um peixe arrancado ao mar, condenado à morte pela falta de ar. as redes que trazem o alimento conquistado pelo esforço daquela comunidade revelam-se, ao mesmo tempo, uma prisão, fonte de angústia e desespero. curiosamente, nas raras vezes em que a voz humana se manifesta, não há lugar a qualquer desenlace ou revelação. um momento particularmente divertido do espetáculo resulta do alegre diálogo carregado com a pronúncia açoriana entre dois atores. por vezes, afigura-se que escutamos vocábulos que remetem para cenários de imigração, despedidas e regressos. enquanto a conversa progride, ouvem-se risos na audiência. no entanto, sabemos que não há qualquer intenção de caricaturar. talvez este seja um dos momentos em que quem não é açoreano reconhece sem qualquer dúvida a singularidade deste povo. a relação familiar e genuína entre aqueles homens, que para o espetador não deixa de ser distante e oculta, confirma a nossa qualidade de estrangeiros.
(...)
a grande beleza deste espetáculo resulta de um jogo poético que oscila entre mistério e revelação, subordinado a uma visão artística subjetiva, sem qualquer intenção de tudo mostrar. perto do fim, o palco vai ficando vazio, até restar um único ator que repetidamente bate no próprio corpo enquanto cruza os braços, como num abraço que tanto acolhe como rejeita. ao som do toque violento causado pelo embate das mãos, a escuridão avança paulatinamente, até ficar um silêncio que nos deixa em suspenso perante os enigmas que, apesar de não terem sido decifrados, permitiram por breves momentos sentir a profundidade e beleza da alma de um povo." diogo costa seixas, in revista brotéria

"este ilhas é um objecto de intensidades imoderadas, de uma beleza cáustica, quase desesperada. começa por um grande momento em que a música nos obriga a parar. é um dos espaços sonoros mais dificeis, mais exigentes, mais perturbadores e também mais delirantemente estimulantes que vi na minha longa vida de espectador. (...) novamente a ideia de que devemos ler um objecto artístico por aquilo que ele é.  e nesse sentido Ilhas é tão insistente, tão teimoso, quase tão orgulhoso do seu processo que  não nos dá muito espaço para nos relacionarmos com ele de outra forma. falei de intensidades. poderia ter dito beleza. o espectáculo tem uma beleza extrema, reforçada pela sua  coerência cénica. os actores fazem parte daquela beleza. exaltam-na. tantas imagens, miguel damião no despique com david medeiros, ana cristina santos, rosinda costa e joana de verona na dança intima com os seus pares, falta aqui o emanuel arada. como gostei de o ver na cena! e a morte, ou a viúva negra, cena tão bela. o espaço cénico. o esvaziar no palco no final. delicioso este Ilhas." joaquim paulo nogueira

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